sábado, 11 de julho de 2009

Amor e justificação, um ensaio sobre o afeto hoje em dia.

O prazer, é o paradigma de nossas decisões. A ética é o expediente de nosso comportamento. As duas proposições anteriores adaptadas de Max Stirner e Wiliam James servirão de baliza para esse ensaio. Todos querem o prazer , mas entre os prazeres ou satisfações que procuramos inclui-se o de sentir-se justificado nas ações perpetradas com a finalidade de atingir esses objetivos. O prazer, todavia, como Max Stirner, Freud, Nietzsche e outros observam, não se reduz e sensações advindas de nossos órgãos. Toda finalidade da ação humana poderia ser descrita com um objeto de prazer, como um propósito digno de servir-nos de meta para nossa ação. Todavia não vivemos sozinhos e muitos de nossos prazeres, ou metas, são possíveis apenas mediante a cooperação de outras pessoas. Atribuímos centralidade ao prazer advindo da convivência social, centralidade esta que poderíamos explicar recorrendo a uma vontade mística de dissolver nosso eu em um tu. Todavia, esta mesma relevância e inclinação para a convivência e para o estabelecimento de vínculos definitivos poderia ser explicada pelo condicionamento para a sociabilidade e sobrevivência em grupo. No primeiro caso a sociabilidade seria descrita em termos religiosos e mesmos Sagrados, em detrimentos dos expedientes privados e dos propósitos para os quais as metáforas prestam-se bem mais que a linguagem cientifica ou filosófica. Em contrapartida, quem preferir a segunda explicação considerará a sociedade um mero meio para obter fins privados que tem no próprio indivíduo sua finalidade e regulação. A explicação que dermos para a relevância do vínculo social, nesse caso, me parece que derivará apenas de nossas própria pretensões relativas a esse vínculo. O que considero mais importante, entretanto, é a relação entre ações e justificativas, ou melhor entre nossa relação de dupla dependência em relação a nós mesmos e em relação ao meio que nos cerca. Essa relação de resistência e de atrito entre o público e o privado é mais explicita em questões de afeto. Amamos as pessoas, apenas para amá-las e nada mais, porque o amor é seu próprio fim, como querem os místicos e alguns filósofos, ou amamos com vistas a nossa realização pessoal ? A resposta, a meu ver, passa pela seguinte questão: O que nos dá mais prazer, o que nos realiza mais: propósitos comunais e públicos ou pessoais e privados? Não creio que possamos sair desse impasse. Qualquer resposta a essa questão reconduz aquele que indaga as metas que estabelece para seus atos, inclusive o ato de elaborar tal pergunta. Por outro lado, cabe dizer, o âmbito publico e muitos casos assimila o privado, como por exemplo em algumas relações familiares. Nestes casos os limites éticos não representam uma barreira estranha diante da qual a própria realização tem que prestar contas. As prescrições comportamentais apresentam-se, antes, como os próprios alvos da satisfação pessoal. Todavia, essa adequação é contingente e conquanto seja um dos casos, não temos motivos para acreditar que a cultura deva coroá-la.
Se não possuímos uma ordem ético moral antecedente a qualquer indagação não temos também como condenar de forma absoluta qualquer demanda pessoal. Nossas valorações terão por fundamento, nesse caso, as imagens que nos fascinam, as experiências que tivemos e os temores que tentamos exorcizar com ações e palavras. Contudo, o atrito entre o publico e o privado persiste, pois, o duplo vínculo estabelecido a partir da relação de prazer e justificação leva-nos a tentar reduzir o outro ao serviço de nossas demandas de forma integral. Queremos não apenas os beijos daqueles a quem amamos, queremos que esse desejo seja nobre e legitimo, se não é possível fazê-lo, pois os limites éticos alheios nos colocam em posição desvantajosa, os redescrevemos como estúpidos, fracos, cristãos etc. Queremos que nossas necessidades pessoais venham com o selo da necessidade ética, e que quem não aceita satisfazê-la pelo menos se reduza ao reconhecimento de sua culpa, esse seria o segundo prazer do qual não abrimos mão
Poderíamos descrever esse atrito, ou a sua força como derivada de nosso passado cristão, bem como também poderíamos descrevê-lo como derivado da patologia individualista advinda do capitalismo que nos tornou insensíveis aos legítimos apelos da moral comunitária. Eu prefiro assumir a primeira explicação e como Rorty imaginar uma comunidade pós metafísica na qual a dor da privação de um desejo não precisaria vir acompanhada da acusação de imoralidade à pessoa que dele nos priva. Uma comunidade assim nortearia seu julgamento em relação a outros indivíduos pelas máximas éticas que norteiam a prática jurídica, condenando como imorais apenas as ações que constituem um prejuízo para a vida coletiva em uma sociedade totalmente laicizada .