domingo, 26 de setembro de 2010

Bandeiras e argumentos.

No nosso cotidiano nos utilizamos diversas palavras, encaixadas em muitos enunciados e contextos práticos diferentes. Algumas destas palavras, contudo, desempenham na vida das pessoas um papel muito importante é impossível negar. Deus, fidelidade, certeza, verdade, justiça são algumas delas, mas a lista completa é infinitamente maior. Ao utilizarmos estas palavras como modelos de autoridade ética talvez imaginemos que estamos fazendo algo intrissecamente legitimo e sério, algo bem melhor que a utilização dessas mesmas palavras no interior de piadas ou trocadilhos casuais. Contudo, toda nossa linguagem, parece-me, desenvolveu-se conjuntamente com todos os traços que compõem os ser humano e com a própria idéia de que existe algo que pode ser chamado assim. Portanto, se a tentativa de buscar o prazer e evitar a dor moveu esse desenvolvimento não sei como podemos atribuir algumas das palavras que compõem essa mesma linguagem tal seriedade; exceto quando o que está em questão é a possibilidade de algum prazer advindo desse tratamento. Embora essa reflexão seja algo característicamente filosófico, é também algo que toca diretamente os hábitos mais prosaicos da menos filosóficas das pessoas. Não consigo, mesmo com a maior boa vontade, compreender o que queremos dizer com "leis naturais", "essência da bondade humana", "regularidades intrissecas a atuação do indivíduo sobre o mundo" quando essas frases querem ser algo mais que a tentativa de reproduzir certos hábitos que foram, para quem os mantêm, proveitosos.
As imensas querelas que trespassam todas as culturas poderiam ser resumidas nisso: tentativas de superação Lingüística e cultural que transferem a guerra do âmbito do combate físico para o do combate discursivo. É claro que nossos combates não se dão apenas nessas duas frentes, muitas outras formas de assimilação do outro a nós mesmos também constituem-se como exemplares alternativos desse combate generalizado, embora nem sempre cruel.