sábado, 16 de outubro de 2010

Notas sobre a crênça no progresso

Cientificidade é um dos nomes da virtude procurada por aqueles que consideram-se membros do movimento de transformação cultural que começou na Europa do século XVII. Excetuando alguns poucos insurgentes, tão insubmissos a essa deusa chamada ciência quanto sedentos da mesma legitimidade que ela reclamava, todos os nomes relevantes de nossa historia recente são filhos desse movimento. As mudanças de direção para o desenvolvimento das civilizações tiveram a partir desse movimento um ganho de natureza quantitativa em termos de variedade; no entanto, quanto a natureza qualitativa desse movimento é difícil chegar com a mesma facilidade a tal conclusão. Poderíamos, para fins de articulação discursiva, separar os intelectuais entre aqueles que não piscam ao afirmar que existe alguma coisa chamada "evolução", e que essa coisa aconteceu de forma inequívoca do iluminismo para cá, e aqueles que não acreditam em semelhante coisa chamada evolução ou acreditam mas acham que a sociedade não realizou nada de significativo nesse campo. No segundo time teríamos pessoas como Tomás de Aquino, Lutero, o grande exército dos céticos metafisicamente motivados e dos místicos. Vemos que não há muitas diferenças de inclinação entre os descrentes do progresso. No outro time, entretanto, teríamos uma variedade muito maior, pois o que está em jogo nele são diversas concepções do que é evolução e do que devemos entender quando dizemos que "sabemos disso". Só a colocação desse embate serve para nos favorecer mais um elemento para a compreensão de nosso tempo: a alegria em ser o que é. Enquanto aqueles que aferram-se a modos de pensar anti-históricos e pouco dialógicos são unânimes em questionar a ideia de progresso, nós outros, marcados pelo signo da necessidade de furtar-se a tais modos de falar somos unânimes quando se trata de crênça progresso. Já se propôs a divisão dos que apostam no progresso entre aqueles que olham para o futuro a para a invenção e aqueles que pensam no passado e se questionam se não deixamos algo perder-se no meio do caminho. Não considero tal divisão justa. Muitos dentre os mais originais de nossos pensadores oscilaram entre os dois pólos. Talvez essa oscilação seja tão maior quanto mais honesto e íntegro for o pensador. Se em nossa vida nunca temos a certeza definitiva sobre o carácter das nossas escolhas, como fazer tal coisa quando o que está em jogo é a avaliação do passado da humanidade e a prospecção do seu futuro?

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