Refletir sobre os direitos humanos é refletir sobre nossa cultura, e não apenas sobre nossas leis. A cultura determina o leque de possiveis valorações que serão apresentadas a cada indivíduo no curso de seu desenvolvimento, a lei apenas sanciona ou condena alguns comportamentos advindos destas valorações. Contudo, ao defendermos nossas convicções acerca da necessidade de eliminar da nossa cultura os seus elementos anti-liberais e excludentes, as descrições e vocabuláios éticos que orientam atitudes sexistas ou racistas, raramente percebemos que estamos defendendo a mudança de nossa cultura em uma dada direção. Essa direção, por sua vez, é determinada por processos históricos específicos que nos levam a um choque com toda expressão cultural que não identifica nesses mesmos processos parte da sua identidade. Como exemplo de uma dessas expressões culturais citarei algumas denominações religiosas que condenam a homossexualidade, em alguns casos tratado-a como uma espécie de patologia, uma “doença da alma”. Por outro lado, nós que assimilamos o vocabulário do iluminismo, a consciência histórica e política que desenvolveu-se a partir do século XIX nas sociedades ocidentais, consideramos a homossexualidade como tão digna e nobre quanto qualquer outra expressão sexual humana. Como resolver esse impasse? É claro que do ponto de vista legal esse impasse não existe. As prerrogativas constitucionais asseguram aos indivíduos a liberdade de orientação sexual. Todavia, em nossos costumes permanece a inclinação a homofobia e outras formas de preconceito. O diálogo entre as duas opções éticas (porque entendo que toda opção valorativa é uma opção ética) não é simples. No caso de educadores cuja atividade implica a necessidade de levar os valores iluministas para indivíduos entrincheirados em convicções homofóbicas ou machistas essa dificuldade constitui, no meu entender, o ponto crucial da pedagogia em seu caráter ético - politico. Não é possível ignorar esse impasse, nem fingir que ele não existe. Para o educador, assumir dogmaticamente o ponto de vista iluminista e tentar simplesmente “inculcá-lo” no aluno seria inviabilizar o diálogo, e simular um processo educativo que não haverá. Por outro lado, desconsiderar as demandas de nossa sociedade por uma cultura inclusiva e livre do preconceito seria deixar de fazer aquilo que a sociedade civil dele espera, exilando-se no confortável espaço da indiferença. A terceira opção seria aquela que assume os valores igualitários de sociedades como a nossa com determinação e vontade, sem no entanto perder a capacidade de ouvir, ponderar e responder aos discentes portadores de discursos radicados em pontos de vista menos sensíveis a dor e ao sofrimento que causa o preconceito.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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