terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Relativismo cristão de Geanne Vátimo

O mercado de ideias não para de demandar novas produções. Os antigos artefatos vão se tornando obsoletos abrindo espaço para a necessidade de novas versões de velhas promessas. Os filhos são educados por pais cujos valores encontram-se defasados em pelo menos duas décadas em relação ao mundo no qual seus filhos irão crescer. O desconforto diante dessa perspectiva é visível no esforço de pensadores sérios e capazes como Gianne Váttimo em oferecer uma tradução mais sofisticada de palavras que caíram em desuso. Para muitos autores a mudança no valor atribuído a palavras como Deus, Salvação e Verdade levaria a humanidade a um estágio terminal de degradação, mas o professor Vátimo tenta nos dizer que não é assim. "O sujeito pós-moderno está debilitado porque não pode mais apoiar-se num valor absoluto." Esse seria apenas mais um diagnóstico nitzscheano se Váttimo não acrescentasse: "Mas, aqui, debilidade significa redução da violência e das pretensões de valor definitivo." O relativismo, para o filósofo, conduziria a tolerância e a caridade pois para ele "O sujeito debilitado é somente aquele mais tolerante, aberto aos outros." Ora, em primeiro lugar, quero observar que o relativismo não existe, senão na linguagem dos filósofos, tanto quanto a própria metafísica. A maior parte da história da humanidade foi escrita com sangue derramado em disputas entre nações que se auto-denominavam as escolhidas por suas respectivas divindades. A historia do cristianismo caracterizou-se pela tentativa em abarcar todas essas pretensões no interior da sua, usando a lógica e a metafísica por um lado e a inquisição e os exércitos por outro. O sonho de um valor abrangente e universal desde sempre só existiu nas palavras dos pensadores e quando saiu daí, só o fez através da violência, nisso Váttimo tem razão. Mas, para além das disputas de academia e das encíclicas do Papa, é possível afirmar que somos mais relativistas hoje que há 500 anos? Antes de responder a essa pergunta talvez seja necessário dizer primeiro quem são o "nós" de que falamos aqui. Para Váttimo, o nós de que se trata aqui é composto pelos cidadãos europeus cujos avós não podem conter uma expressão indignada diante do capitalismo selvagem e da pouca vergonha hedonista que preenche os programas de televisão. Mais eu quero aplicar a palavra nós em um sentido mais amplo, um sentido que inclua os Aymorés, Tupinambás e Bantos que foram escravizados torturados e mortos pelos "nós" do qual fala Váttimo. Se pensarmos nos termos desse meu "nós" não imagino como podemos continuar aceitando a tese de que somos mais relativistas hoje do que a 500 anos. Se naquela época já existia um relativismo instaurado entre portuguêses e indios e esse relativismo não permitiu nenhuma convivência baseada na caridade, não entendo porque o professor Vátimo espera que hoje em dia façamos diferente. Mesmo o tipo de consciência relativistica caracterísitica de alguns professores de filosofia vêm acompanhada de outros acessórios que são mais importantes que essa consciência. O mêdo de perder o emprego, o desejo de obter a aprovação, a necessidade de reviver momentos mágicos de aclamação do público e etc são exemplos de fatores que servem para comtrapor-se ao tipo de neutralidade que o nilismo de Váttimo preconiza. Dizer que esses fatores seriam menos decisivos para a deliberação ética é dizer que uma razão filosófica é mais forte que uma paixão, algo que considero dificil de levar a sério. Ademais, creio que os departamentos de filosofia espalhados pelo mundo e repletos de consciência relativistica poderiam servir de exemplos empíricos do que quero dizer.
Citações de Vátimo extraidas da entrevista disponível no site abaixo.

http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3701&secao=354

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