Dentre as perspectivas que a filosofia contemporânea nos indica, considero aquela que toma como ponto a contingência uma das mais relevantes. Anatematizada por filósofos como Platão que viam na estabilidade e na certeza o fulcro de todos os valores a contingência assumiu uma posição de nobreza na era pós nitzscheana, mas o impacto dessa mudança não chegou a libertar o nosso vocabulário dos vícios que as narrativas construídas por Platão e outros essencialistas nos legaram. Contudo, áreas de atividade como a pedagogia, por exemplo, viram-se pressionadas pelos setores mais vanguardistas da sociedade a assimilar o vocabulário anti-essencialista e adotá-lo as idiossincrasias de seus próprios propósitos. Nesse sentido, a contingência passou a dividir o reino dos céus com a essência e os “relativistas” e “socio-construtivistas” passaram a utilizar-se do vocabulário da contingência da mesma forma e com os mesmos propósitos que os essencialistas utilizavam-se do vocabulário da essência. Creio que seja bem difícil que certas funções sociais prescindam de um vocabulário sobre “como as coisas são”, por questões de vicio cultural e talvez devido a aspectos da referida função. Todavia, prefiro apostar na contingência de uma perspectiva não reflexiva como uma possibilidade de dar a essas áreas de atuação um toque de dinamismo e de deflação vantajosos para uma cultura como a nossa. Nesse sentido consideraria mais útil aplicar a palavra contingência no sentido de que “tudo que dizemos tem referência aos nossos atos” ou como Pierce “o sentido de uma frase são as ações que ela viabiliza”. Assimilada a cultura, depois de recorrentes utilizações, ninguém sabe que tipo de sociedade esse vocabulário poderia criar. Assumir esse “não saber”, para fazer os ajustes indispensáveis a posteriori é o que chamo de uma perspectiva contingencial.
domingo, 19 de outubro de 2008
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