sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Big Brother, transferência e valores

A mídia sustenta-se das preferências do público para o qual ela volta as suas produções, essa é metade da verdade. A outra metade é que a mídia, através de certas estratégias produz certas preferências, aproveitando-se de algumas outras tantas preferências mais antigas deste mesmo público. O resultado deste movimento é o que chamamos de cultura midiática: o movimento de Sístole e Diástole entre criação artística e satisfação de preferências. Quando um programa nos formatos do Big Brother da rede globo faz sucesso, por exemplo, podemos imaginar que existe por detrás deste sucesso uma estratégia bem sucedida de produção, marketing e criação e por outro a escolha acertada de um produto que se encaixa perfeitamente em determinadas inclinações das pessoas. Irei me concentrar sobre este segundo ponto. O que as pessoas gostam de ver no Big Brother? Mulheres Nuas? Homens atléticos simulando virtudes que as pessoas gostam de imaginar que também possuem, como camaradagem, fidelidade e etc? Intrigas? Pessoas que encarnam os comportamentos que desprezamos (práticas que aprendemos a odiar através de nossa educação ou por causa de certos traumas de nosso passado)? Ou tudo isso?
Não é de hoje que nós, indivíduos das cidades grandes, nos deleitamos com a representação de vidas alheias. Desde o romance novelistico de revistas como Julia ou Bianca, até a hipnose em massa das telenovelas é fácil constatar nosso fascínio pela vida alheia. Os motivos são vários, mais todos tem um propósito comum: reforçar os valores que defendemos e amaldiçoar os comportamentos que desprezamos, mandando-os para o famoso paredão. Esse valores e comportamentos, na maioria dos casos, não escapam a medianidade e mediocridade das avaliações de quem estabelece o próprio valor através da comparação com outras pessoas. Quem não considera a comparação com outras pessoas uma boa ferramenta para estabelecer o próprio valor irá ver com certo desdém tanto a telenovela quanto o Big Brother. Esse ultimo todavia traz consigo um elemento que apimenta um pouco mais as comparações: quem desempenha certos comportamentos ali não é um personagem de ficção, é uma pessoa real. Imagine o gozo moral de um homofóbico ao ver outra pessoa ser na Televisão a pessoa preconceituosa que ele gosta de ser. Ou, por outro lado, imagine a matrona, que gastou toda sua juventude, se sacrificou em nome de ideais como fidelidade, família, moral ao mandar para o paredão uma garota sarada que trai o namorado, que está fora da “casa”, diante das câmeras; um orgasmo de vingança. A lista das possibilidades é infinita, chama-se a isso transferência. Confirmo o que sou me identificando com alguém melhor sucedido que eu e que se parece comigo, ou condenado quem representa o que eu desprezo.
Do ponto de vista da fruição pessoal o Big Brother vale tanto quanto uma partida de futebol ou um espetáculo de música clássica. Do ponto de vista da nossa cultura, dos aspectos políticos da arte, contudo, é um desserviço. Reforça preconceitos nocivos as nossas instituições, consolida valores medievais e retrógrados e, de quebra, transforma garotas inexpressivas e superficiais em atrizes de 1° escalão. Contudo, sabemos que essas observações têm pouco valor para quem assiste o Big Brother, em um país que possui tantos feriados e tanto analfabetismo refletir sobre as consequências políticas da arte é, devo admitir, uma mera excentricidade de filósofos.

6 comentários:

Rafael Medeiros disse...

Cuidado com os torcedores do Dourado, eles pode te pegar! (rs)
O mais engraçado nesse cara é que ele não gosta de viado (tem uma swastika tatuada), mas tem o sobrenome mais aviadado que eu já tive notícia. (rs)

Mas...falando sério, foi uma ótima análise. Gosto muito de como pragmatismo, existencialismo, niilismo,humor e uma certa esperança (ou não?) se articulam no teu texto.

André disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André disse...

Li em algum lugar comentário sobre a vitória de Dourado, o tão aclamado homofóbico que se sente vítima de heterofobia (como ele mesmo definiu no dominical Faustão). A idéia central desse comentário era a de que Dourado representava um sentimento de tradicionalismo e moralidade dentre os estereótipos(?!) de dLag-queen, gay, lésbica, devassa, músculo cerebral anabolizado, etc. Eleger Dourado como vencedor seria uma vontade de retorno à uma modelo anterior de sociedade? O que se pode depreender disso?

Hilton Leal disse...

POis é André, uma intetressante radiografia do conservadorismo brasileiro. Apesar de não acompanhar o programa teu comentário me faz pensar que a vitória do dourado deveu-se ao fato de que o público do Big Brother é exatamente o mesmo público que vâ nas políticas pró igualdade uma degeneração, o mesm o público que assiste os especiais de Roberto Carlos e a missa do galo ( ouse não assiste pelo menos faz parte da mesma tradição familiar que deu origem a tais eventos). Eleger Dourado, na minha opnião, foi uma reação a tentativa da globo de mostrar-se progressista colocando dois Hossexuais assumidos no Big Brother. Um verdadeiro grito de revolta siado do peito de um conservadorismo cada dia mais encuralado.

Unknown disse...

Meu caro Hilton, seu texto é fabuloso, pois está explicito a REALIDADE.